Fragilidade e força

Há momentos na vida que todas as nossas fragilidades parecem ser expostas e não sabemos como lidar com as próprias frustrações ou não queremos expô-las. Mas quem gosta de ser exposto?

Quem quer ver seus segredos, medos e angustias mais profundas sendo revelados?

Não é mais fácil esconder nossas imperfeiçoes, maquiá-las ou torná-las aparentemente perfeitas?

Há um acontecimento na cultura japonesa que é chamada Kintsugi.

O que é isso?

Kintsugi é uma arte milenar japonesa que consiste em reformar vasos quebrados com pó de ouro, tornando-os ainda mais valiosos do que eram, antes de quebrados. As emendas em ouro ficam aparentes, para mostrar que o vaso foi realmente quebrado, emendado e ganhou um novo status, mais raro, forte, valioso e bonito. Mais que uma técnica, essa arte é considerada uma filosofia de vida com um conjunto de valores, e aborda resiliência, superação e a beleza que existe na imperfeição.

O que me chama atenção nessa técnica milenar, não é a filosofia embutida em conceitos budistas que valoriza as marcas de desgaste pelo uso de um objeto, podendo ser visto como uma razão para manter um objeto mesmo depois de ter quebrado e como uma justificação do próprio kintsugi, destacando as rachaduras e reparos como simplesmente um evento na vida do objeto, em vez de permitir que o seu serviço termine no momento de seu dano ou ruptura.

O que gostaria de destacar aqui é o modo como as rachaduras são expostas e o valor que é dado a elas. Valores estes que mostram exatamente o que uma vida sem Cristo oferece a humanidade; beleza aparente e valorização exterior. Uma arte que se destaca por ter suas rachaduras remendadas com pó de ouro, mas que de fato é um vaso que interiormente não serve para nada.

 

A bíblia relata em 2 Coríntios 4:7 que,

“Agora nós mesmos somos como vasos frágeis de barro que contêm esse grande tesouro. Assim, fica evidente que esse grande poder vem de Deus, e não de nós.” 

 

Somos como vasos frágeis, mas o Senhor é a nossa força!

Os desafios vividos em uma esfera emocional e espiritual por milhares de pessoas, trazem consigo, o desespero e desassossego da alma humana. Se fizermos uma análise nas religiões mundiais, vamos descobrir que todo ser humano está em busca de uma única coisa, Deus. Onde está Deus naquilo que parece ser um caos?

Onde está Deus quando toda nossa fragilidade é exposta e muitas vezes não somos acolhidos?

O que tem acontecido com a humanidade ao ponto de focarem todo esforço em remendos para “mascarar” cicatrizes profundas, do que cuidar intensivamente de cicatrizes internas de si próprios ou dos outros?

Seria melhor cuidar de um vaso quebrado do que de um ser humano despedaçado?

Não é tão simples assim, remendar sentimentos despedaçados! Não, não é!  É preciso ser sensível a dor do outro, não para expô-lo, mas para reconstruí-lo.

Se somos vasos frágeis, mas de grande valor para Deus, ao ponto Dele nos encher com o Seus espírito, porque não valorizamos pessoas que Deus coloca em nossas mãos para cuidar?

Até quando vamos olhar as imperfeições dos outros e não as ajudar a reconstruir ou até quando vamos fazer de conta que nossas imperfeições devem ser mascaradas e não tratadas?

Apenas um coração quebrantado e cheio de sinceridade revela quem somos. Há um significado muito profundo na etimologia da palavra sincero e há alguns dias tenho estudado e refletido sobre ela. Vou defini-la a seguir.

A palavra sincero (sine cera) foi criada pelos romanos. Eles fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras os verdadeiros sentimentos de seu coração.

Ao contrário de um vaso remendado com pó de ouro, devemos ser como este vaso feito com uma cera especial, pura e perfeita, ao ponto de não mascararmos nossas fragilidades, mas deixá-las expostas para que outros vejam e sejamos transformados de dentro para fora.

‘Para o vaso assim, fino e límpido, dizia o romano vaidoso:

– Como é lindo!!! Parece até que não tem cera!!!

“Sine cera” queria dizer “sem cera”, uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes e da antiga cerâmica romana.

O vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado. Sincero, é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações. O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras os nobres sentimentos de seu coração.

Sincera é uma palavra doce e confiável, é uma palavra que acolhe… e essa é uma palavra que deveria estar no vocabulário de toda alma para que sejamos transformados para transformar, curados para curar.  Em sinceridade de coração, frágeis sim, mas fortes nas mãos de um Deus poderoso que não remenda a nossa história para que sejamos expostos, mas que nos faz um vaso novo para sermos usados para Sua própria glória.

 

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8 comentários em “Fragilidade e força”

  1. Carla

    Que lindo!
    Que mensagem impactante! Nunca tinha parado pra pensar nesse texto de 2 Coríntios 4:7 que,

    “Agora nós mesmos somos como vasos frágeis de barro que contêm esse grande tesouro. Assim, fica evidente que esse grande poder vem de Deus, e não de nós.”

    Esse poder não vem de nós…

    1. Mensagem impactante! Realmente somos vados de barro e que bom que somos de barro pq isso nos dá a esperança de podermos a cada dia sermos moldados. Amém! Parabéns Ivana…

    2. Parabens Ivana!👏👏👏👏. Bela e profunda reflexão, somos vasos frageis, todavia com nossas limitações, temos a graça de ter em nosso interior um tesouro valiosíssimo e indestrutivo.

  2. Parabéns Ivana que Deus continue usando sua vida. Lindo texto para refletir sobre o que Deus fez e ainda tem para fazer em nossas vidas.

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